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quarta-feira, 7 de setembro de 2016
EUA PROÍBEM SABONETES QUE “MATAM ATÉ 99,9% DAS BACTÉRIAS”
Se você quer evitar infecções, fique na clássica mistura de sabão comum e água. Pelo menos, essa é a recomendação da FDA, que regula remédios e alimentos nos EUA, como a Anvisa no Brasil. A agência baniu 19 químicos usados na maioria dos sabonetes que dizem eliminar até 99,9% das bactérias. Eles vão precisar sair do mercado em até 1 ano.
A preocupação da agência tem dois motivos: eficácia e segurança. Em 2013, a FDA pediu que as marcas que produzem sabonetes com bactericidas – ou seja, substâncias químicas que matam bactérias – enviassem estudos e dados que comprovassem que seu produto matava mais micróbios que o sabão neutro comum.
Grande parte das marcas não chegou a mandar documento algum, alegando que estudos clínicos com seres humanos são caros e longos. E os estudos que chegaram na agência não foram suficientes para garantir que o sabonete realmente faz o que promete e não convenceram a FDA.
Só que os problemas não param por aí. Ainda que ficasse provado que o sabonete bactericida funciona perfeitamente, matando 99,9% da bactérias, isso não é necessariamente uma notícia boa.
O julgamento final da FDA incluiu mais de 20 estudos preocupantes sobre os 19 químicos banidos esta semana – especialmente os mais comuns, Triclocarban e Triclosan. Em primeiro lugar, ninguém sabe exatamente quanto tempo essas substâncias ficam no organismo. O Triclosan, por exemplo, mesmo enxaguado, é absorvido pela pele e vai parar na urina. Somos expostos com tanta frequência a esses compostos que ninguém sabe exatamente quanto tempo leva para serem eliminados do corpo.
Mais graves são os resultados de estudos que mostram que o Triclocarban pode causar alterações nos hormônios da tireoide e na ação da testosterona. Testes com ratos na puberdade também mostraram riscos para o desenvolvimento sexual.
Esses efeitos hormonais podem aparecer só depois de muitos anos da exposição inicial, e não são a única preocupação dos cientistas. Há também o problema das superbactérias.
Os bactericidas do sabonete não são antibióticos, que também matam bactérias, mas com mecanismos diferentes. Só que pesquisadores têm estudado uma possibilidade assustadora: que bactericidas acabem selecionando bactérias resistentes a antibióticos.
Dos 99,9% das bactérias mortas quando você lava as mãos com um sabão antibacteriano, aquele 0,01% provavelmente tem uma resistência genética ao princípio ativo do germicida. E vai continuar a se reproduzir, criando números cada vez maiores de bactérias resistentes.
Os cientistas ainda não tem certeza se, na sua mão, essa seleção natural pode trazer problemas graves. Mas, em laboratório, já conseguiram demonstrar que uma bactéria sobrevivente ao Triclocarban pode desenvolver resistência cruzada a antibióticos – e não em um estudo isolado, mas em 10 trabalhos diferentes encontrados pela FDA. Um deles, inclusive, mostrou que a Salmonela se torna mais resistente a vários medicamentos depois da exposição prolongada a sabonetes desinfetantes.
As marcas de sabonete ganharam 3 anos para se defender contra os resultados desses estudos, mas não foi suficiente para garantir, além da eficácia, a segurança desses produtos no longo prazo.
Além dos químicos banidos, a FDA ainda vai analisar os desinfetantes de mão e os produtos usados em hospitais, para avaliar se eles também apresentam um risco para quem faz uso deles diariamente – enfermeiros, por exemplo, chegam a limpar as mãos até 100 vezes por dia (uma ótima prática a não ser que o produto esteja colocando a saúde deles mesmos em risco).
Por enquanto, a recomendação do órgão norte-americano para quem não é profissional de saúde é se ater a lavar as mãos com água e sabão e só usar desinfetantes de mão com no mínimo 60% de álcool – o que seria mais que suficiente para limpar a superfície das mãos sem absorver químicos com efeitos duvidosos.
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