“O ar é fundamental para a vida, mas independente dessa função vital, por meio da respiração o organismo todo se oxigena. Essa oxigenação libera a tensão, regula o estresse e ajuda a relaxar. Respirar é, ainda, uma forma de energização”, explica a psiquiatra Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) e representante brasileira na Divisão de Saúde Ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria. Aqui cabe uma observação. Estamos acostumados a ouvir a expressão “combate” ao estresse, mas ela já não é mais considerada adequada.
“Não falamos mais em combater o estresse, porque combatemos um inimigo, e acreditamos que o estresse pode ser um aliado”, explica Ana Maria Rossi. O certo, agora, é gerenciar ou administrar o nível de estresse. Tudo bem. Mas onde entra nisso o ar que você respira? “Quando está com raiva, mas sabe que não pode explodir socando a mesa, segura a raiva na respiração para controlar a emoção”, diz Ana. Nosso corpo percebe diversas situações externas como ameaças e prepara-se para combatê-las ou fugir delas. A aceleração da respiração é uma dessas respostas do corpo frente ao perigo. “E, se a pessoa passa por uma fase longa de problemas, o padrão respiratório equivocado se torna um hábito”, afirma a especialista.
RESPIRAÇÃO DEFICIENTE
Uma respiração correta acontece em duas partes do corpo: na caixa torácica e na cavidade abdominal. Quando se utiliza apenas a parte peitoral, há menos ventilação do pulmão. Pessoas que possuem problemas respiratórios utilizam essa respiração superficial como uma espécie de mecanismo de compensação à rigidez das musculaturas peitoral e costal e ao diafragma encurtado, que acabam diminuindo a mobilidade das costelas e a capacidade do pulmão. Mas o que ocorre hoje é que mesmo as pessoas consideradas saudáveis respiram dessa maneira deficiente. “Muitas vezes confunde- se a dificuldade de respirar com doenças respiratórias, mas na verdade ela apenas está associada ao estresse e à ansiedade.
Quando a pessoa para um pouco e começa a respirar mais profunda e lentamente, experimenta alívio dos sintomas. Por isso a respiração mais pausada pode ajudar nos momentos de estresse agudo”, diz Leandro Fritscher, pneumologista do Hospital São Lucas da PUC-RS, de Porto Alegre, e professor de pneumologia da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas (RS). O ideal é que você respire cerca de dez vezes por minuto, ritmo que os especialistas consideram confortável. “Quando a respiração fica a superficial, apenas torácica, podem surgir problemas como dormência, formigamento e cãibras nas pernas, porque não se está irrigando de oxigênio eficientemente a parte inferior do corpo. Pode-se ainda ter a sensação constante de cansaço pela falta de irrigação do cérebro”, afirma Ana Maria. A respiração profunda, também chamada de abdominal, enche totalmente os pulmões e oxigena o corpo todo. Todos nós nascemos com essa eficiência respiratória. Basta olhar para um bebê: a barriga e o peito sobem e descem num mesmo ritmo. “Infelizmente, à medida que nos tornamos adultos, perdemos essa capacidade natural”, frisa a psiquiatra. Ou seja, desaprendemos a respirar. A respiração ocorre através do diafragma, músculo na parte inferior do tórax, na junção das costelas. Quando você está relaxado, ele se movimenta verticalmente e pressiona o pulmão. Se ele estiver rígido e tenso, dificilmente ocorre a respiração profunda. Nossa sugestão: comece a monitorar sua respiração. “Quando estiver ansioso, conte quantas vezes respira em um minuto. Se for mais de dez, comece a respirar mais fundo e devagar”, ensina Ana Maria (veja o quadro abaixo). Nas primeiras quatro ou cinco tentativas você poderá até mesmo sentir tontura – evite começar quando estiver dirigindo ou andando na rua, por exemplo. Depois, quando seu organismo se acostumar ao novo ritmo respiratório, incorpore o padrão à sua vida, 24 horas por dia.
OBSTRUÇÃO NASAL
Problemas como rinite, sinusite, asma, bronquite e desvio de septo também podem causar estresse, por causa da alteração da respiração provocada pela obstrução. “O incômodo, principalmente na hora de dormir, compromete a qualidade do sono. Durante o dia, há irritabilidade e queda de produtividade”, explica o otorrinolaringologista João Ferreira de Mello Jr., chefe do Grupo de Alergia em Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas (SP). A rinite nada mais é do que uma reação exagerada de defesa do corpo contra agentes agressores externos que podem atingir os pulmões. A maior produção de muco, que provoca espirros, coriza e lacrimejamento, visa impedir a entrada de substâncias que o corpo percebe como ameaças. Esse mal pode ser considerado intermitente (se dura menos de quatro dias por semana ou menos de um mês) ou persistente (se ele é crônico) e a intensidade dos sintomas é dividida em leve, moderada e grave, segundo o grau em que atrapalha a qualidade de vida do paciente. “Quase 30% das pessoas com rinite no Brasil têm dificuldade para adormecer, despertam durante a noite e acordam com dificuldade, pois ainda estão cansadas”, diz Mello.

AUMENTO DAS MUCOSAS
No inverno, o ar frio e seco e o aumento da poluição favorecem o aparecimento ou a piora da rinite. Entretanto, antes de escolher o tratamento, o especialista precisa identificar o agente alérgeno – a substância que provoca a alergia. Para isso, é necessário recorrer a exames laboratoriais, como o IgE Específico (exame de sangue), e a testes cutâneos. Na sinusite, por sua vez, ocorre um aumento das mucosas que revestem a cavidade nasal, causado por infecção viral ou inflamação alérgica ou desencadeado por agentes poluentes. A produção de muco aumenta e obstrui a passagem do ar. Há uma técnica de respiração que, embora não evite a inflamação, estimula a entrada e a saída de ar. Solte completamente o ar e inspire profunda e lentamente apenas pelas narinas. Depois, empurre o ar com força de uma só vez, como se fosse assoar o nariz (sem colocar as mãos nas narinas). Repita dez vezes. Esse processo ajuda a limpar os seios faciais e a cavidade nasal e evita o acúmulo de muco. Ele só é contraindicado em crises agudas de sinusite.
Recentemente, passou a ser realizada também uma cirurgia contra a sinusite, a sinuplastia. Liberada há pouco pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e realizada no Hospital das Clínicas da FMUSP, é pioneira no Brasil. O otorrinolaringologista e diretor da Clínica de Rinologia do HC, Richard Voegels, explica que um cateter é inserido pelas narinas do paciente e, usando um aparelho de imagem, chega à região dos seios obstruídos. Na ponta do cateter, um balão, quando inflado, provoca microfraturas, drena a secreção e, ao final, é esvaziado e retirado das narinas. Por utilizar instrumentos usados em especialidades como cardiologia, cirurgia vascular e urologia, a técnica é minimamente invasiva, mas ainda está em fase de avaliação. “Suas desvantagens são os custos e o fato de não se saber exatamente quais os resultados finais”, conta Voegels.
O que ocorre no desvio de septo é a dificuldade de respirar pelo nariz. “Ela costuma ser constante, mas se acentua durante a atividade física, quando mais se exige da capacidade pulmonar”, conta o pneumologista Leandro Fritscher. Ao respirar pela boca, o ar que entra no corpo não é nem umedecido nem filtrado pelo nariz, o que pode causar ainda mais falta de ar. Dependendo da intensidade do desvio, a correção cirúrgica acaba sendo o procedimento mais indicado. A asma e a bronquite, problemas pulmonares, estressam da mesma maneira: pela dificuldade que a pessoa encontra em respirar. Então, quer você sofra por causa de um problema respiratório ou simplesmente se sinta nervoso, ansioso ou cansado sem motivo, preste atenção à maneira como está fazendo o ar entrar dentro de você. Comece a treinar a respiração abdominal. E respire aliviado.

Fonte: men'shealth
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