Metade dos pacientes que procuram um consultório médico queixa-se de lombalgia. Tal número chama a atenção principalmente porque este tipo de dor pode ser prevenido com algumas medidas simples de correção postural. A frequência é muito alta, se considerarmos o volume de pessoas que procuram diariamente um médico: 40% a 50% de todos os motivos de consulta a clínicos gerais são dor nas costas. Entre os pacientes, pelo menos metade é diagnosticada com dor lombar na porção final da coluna vertebral. Também chamadas de lombalgias, são uma das condições mais frequentes de dor em medicina. E a segunda causa mais frequente de faltas ao trabalho. Estima-se que um contingente de 80% da população adulta poderá apresentar pelo menos um episódio de dor lombar no decorrer da vida.
As causas
São várias, segundo o reumatologista Sílvio Figueira Antonio, presidente da Comissão de Coluna Vertebral da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). As principais são os distúrbios posturais e os esforços físicos exagerados ou inadequados que levam ao aparecimento das dores lombares agudas. Há, é claro, o desgaste natural da coluna vertebral, a degeneração que acompanha o processo de envelhecimento humano. A partir dos 40 anos, o problema aparece de uma forma mais evidente. “Com o decorrer da idade, as alterações degenerativas das estruturas de sustentação da coluna vertebral são as grandes responsáveis pelas dores lombares”, afirma Antônio. Obesos, pessoas com vício corporal, sedentários e fumantes (pela maior frequência de problemas vasculares) sofrem mais os efeitos da lombalgia.
Já as doenças da coluna vertebral como a osteoartrose e as hérnias de disco, por exemplo, são comumente associadas à dor lombar na forma subaguda ou de dor crônica. “Outras causas não muito frequentes, mas que devem ser lembradas na abordagem do paciente com esta queixa, são os deslocamentos vertebrais, a osteoporose com fratura no corpo vertebral e as doenças inflamatórias da coluna”, afirma o médico. Infecções, tumores na coluna vertebral ou doenças reumáticas também causam sensações dolorosas na porção final das costas.
Lombalgia aguda geralmente tem origem mecânica, confirma o ortopedista Eduardo Puertas, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). são exemplos de sobrecarga que resulta em dor lombar carregar malas, crianças, ou outros objetos pesados. “Esse tipo de situação aumenta a pressão sobre os discos vertebrais e causa dor nas costas e, mais especificamente, na região lombar”, diz o médico. Ele também faz um alerta fundamental: não se trata de doença, mas de um sintoma ou sinal de outra causa primária que está causando a dor.
Dor aguda
Os médicos especialista em dores na coluna vertebral – reumatologistas, ortopedistas e neurocirurgiões, além de clínicos gerais – alertam para a necessidade de uma avaliação cuidadosa, na primeira consulta, para se chegar ao veredito da causa real da dor lombar e definir o tratamento mais adequado a cada caso. O diagnóstico diferencial requer, de acordo com Eduardo Puertas, o levantamento do histórico do queixoso. “O paciente pode apresentar dor aguda por um episódio de sobrecarga na coluna lombar ou vício postural, mas também pode ter um problema de saúde mais grave que fica camuflado com a analgesia da dor”, observa o médico. Assim é necessário um exame físico meticuloso da musculatura paravertebral (localizado lateralmente à coluna vertebral), quando o médico constata se há contrações diferentes de um lado, em relação ao outro. O teste de força dos grupos musculares das coxas, pernas e pés é complementado com o exame dos reflexos nos membros inferiores – essa investigação é decisiva porque o nervo ciático, forte protagonista nessas dores, forma-se na coluna lombar e distribui-se para as pernas.
De acordo com Silvio figueira, pacientes com lombalgia aguda geralmente apresentam uma dor de início recente, restrita à coluna lombar, sem irradiação para as pernas, com intensidade variável e que geralmente respondem bem ao tratamento com medicamentos de menor impacto (analgésicos e anti-inflamatório), melhorando em um período que pode variar de três a sete dias. Nesse grupo, em geral, a dor cede após o primeiro tratamento. Eles são a maioria: de 80% a 90% dos casos. . O anestesiologista Onofre Alves Neto, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) chama a atenção para o fato de que dor deve ser primeiro avaliada e depois tratada. “Dor aguda (de aparecimento súbito, recente) deve ser sempre tratada para ser abolida ou tornada suportável, porque hoje nós sabemos que existe um risco muito grande dela tornar-se crônica, com mudança estrutural no nosso sistema nervoso”.
Quando é permanente
Já nas formas crônicas, ou seja, nos casos de dor que duram mais de três meses, o médico deve estar atento para o diagnóstico das principais causas e das diferentes formas de tratamentos disponíveis. Nesses casos, pode ser necessário a utilização de exames laboratoriais ou de imagens (raios X, tomografia computadorizada ou ressonância magnética).
Outro exame chamado eletroneuromiografia deve ser reservados para pacientes com sinais e sintomas de compressão de raiz nervosa lombar (ciática). “Exames devem ser cuidadosamente avaliados pelo profissional para a correta correlação dos resultados com o quadro clínico do paciente”, alerta Figueira que atua como reumatologista no hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo. Segundo ele, é muito comum se observarem alterações nos exames de imagem que não correspondem ao quadro clínico apresentado pelo paciente.
Do ponto de vista medicamentoso, as principais drogas utilizadas são os analgésicos (comuns e narcóticos ou opioides), a utilização de anti-inflamatórios não hormonais e, em casos selecionados, os anti-inflamatórios hormonais (derivados da cortisona), como explica o reumatologista. “Os relaxantes musculares podem ser empregados quando ocorrem as contraturas musculares dolorosas que são bastantes frequentes como causa da dor.
Como combatê-la
Para combater a dor lombar crônica, porém, não basta tomar remédios. “Além de medicar , é preciso reforçar a musculatura e a ossatura lombar com exercícios físicos”, diz Eduardo Puertas. entre as medidas para prevenir a dor por sobrecargas, incluem-se o peso proporcional à altura, atividade física regular e alongamento da musculatura do tronco. “Quem passa longos períodos numa mesma posição precisa fazer movimentos em intervalos de 30 minutos”, sugere o ortopedista.
A cartilha de prevenção de dores lombares é baseada na eliminação ou minimização dos fatores que agravam ou perpetuam as dores. O primeiro item é justamente perseguir o peso ideal – quando mais gordura incorporada à silhueta, mais exigida será a região lombar. Hábitos posturais adequados podem ser introduzidos desde a infância, uma fase em que o aparecimento é rara e, se existir, exige uma investigação ainda mais meticulosa que a dos adultos, pela simples razão de que a estrutura é nova, sem os desgastes acumulados ao longo da vida.
Orientações ergonômicas devem fazer parte da consulta médica: os cuidados que se devem ter durante as atividades diárias, como deitar e sentar-se diante da TV e do computador. “Um problema comum das cidades grandes é engatar a embreagem (marcha) muitas vezes no congestionamento, forçando a região lombar. O ideal – mas que, talvez, ninguém faça – é parar um pouco o carro, sair e alongar a coluna para evitar dor”, ensina o médico.
Terapias alternativas que tratam da dor e a previnem
A acupuntura é um método eficaz para amenizar dores lombares persistentes. Depois de um estudo com mais de mil pacientes com idade média de 50 anos e dor lombar crônica, o grupo que mais se beneficiou foi aquele submetidos a sessões periódicas para colocação de agulhas em pontos-chaves do corpo, em comparação com o grupo que recebeu o tratamento tradicional a base de medicamentos.
O uso de recursos chamados alternativos para tratar dores em pontos variados (acupuntura, homeopatia e as práticas corporais como Lian Gong – sequências específicas para prevenir o aparecimento e também tratar lombalgias já instaladas), já é parte integrante do Sistema Único de saúde (SUS).
O risco do salto muito alto
Trata-se de um clássico: embora se saiba que o salto muito alto e fino pode causar danos à coluna vertebral e, por tabela , a região lombar, extensão direta de pernas e pés, a tentação parece ser mesmo irresistível para muitas mulheres. Afinal o salto fino é autêntico ícone de elegância. A partir de 8 cm, saltos finos pode mudar o eixo de orientação da coluna lombar, sendo causa frequente de lombalgia em mulheres mais jovens.
Se o critério estético imperar sobre a saúde, que se busque alternar com saltos que melhor distribuam o peso ou evitar longos trajetos portando os famosos saltos-agulha. Atenção também para a lordose imposta pelos saltos. As mulheres devem usar salto fino quando for estritamente necessário.
8 dúvidas sobre dor nas costas:
1 - O que é lombalgia?
É quando a pessoa tem dor na região lombar, ou seja, na região mais baixa da coluna perto da bacia. É também conhecida como “lumbago”, “dor nas costas”, “dor nos rins” ou “dor nos quartos”. Não é uma doença. é um tipo de dor que pode ter diferentes causas, algumas complexas, porém a maioria das vezes o problema é solucionado rapidamente. É comum a dor irradiar para as pernas com ou sem dormência.
2 - Qual é a causa?
Frequentemente o problema é postural, isto é, causado por má posição para sentar, para se deitar, para se abaixar no chão ou para carregar algum objeto pesado. Outras vezes pode ser causado por inflamação, infecção, hérnia de disco, escorregamento de vértebra, artrose (processo degenerativo de uma articulação) e até emocional.
3 - Como ela se manifesta?
De duas maneiras: aguda e crônica. A forma aguda é o “mau jeito”. A dor é forte e aparece subitamente depois de um esforço físico. Ocorre na população mais jovem. A forma crônica geralmente acomete os mais velhos, a dor não é tão intensa, porém é quase permanente.
4 -É importante fazer exames como a ressonância magnética?
Não. Mais de 90% das vezes o diagnóstico e a causa são estabelecidos com uma boa conversa com o paciente e um exame físico bem feito. Em caso de dúvida, o passo seguinte é a radiografia simples.
5 -Ginástica faz bem?
Na crise aguda, o exercício está totalmente contra-indicado. Deve-se fazer repouso absoluto, deitado na cama. Uma alternativa é deitar de lado em posição fetal (com as pernas encolhidas).
6 - Que remédios são indicados na crise aguda?
Os analgésicos e anti-inflamatórios podem ser usados. Quanto mais bem-feito o repouso, menos medicamento é necessário. Obviamente, deve-se tratar também da lombalgia.
7 - Lombalgia na criança e no adolescente é comum?
Não. Não é. Enquanto no adulto a maioria das lombalgias tem causas e tratamentos simples, a dor lombar no adolescente requer uma investigação cuidadosa feita pelo médico.
8 - Como evitar que a dor aguda se torne crônica?
Muitos fatores são importantes, como a correção postural, principalmente na maneira de sentar. Na fase aguda a ginástica não é indicada, porém, após o final da crise, a prática regular de exercícios físicos apropriados é importante. Quando fizer exercícios com peso na ginástica, proteger a coluna deitando ou sentando com apoio nas costas. Sempre evitar carregar peso. Não permanecer curvado por muito tempo. Quando se abaixar no chão, deve dobrar os joelhos e não dobrar a coluna. Evite usar colchão mole demais, ou excessivamente duro.
Você pode evitar a lombalgia aguda. Veja como:
- Dê preferência a dormir de lado. De bruços, você pode entortar o pescoço e forçar a região lombar.
- Habitue-se a alongamentos durante o dia, a começar pelo espreguiçamento ao acordar.
- Conserve o peso normal. Quilos extras pesam não apenas na barriga.
- Mantenha boa postura. Cabeça para cima, ombros retos, peito para frente, peso distribuídos em ambos os pés.
- Sente-se em cadeiras e sofás com encosto reto e firme.
- Use um descanso para um dos pés quando estiver de pé ou sentado por muito tempo.
- No carro, mantenha os pés a distância confortável dos pedais, sem forçar. Viagens longas exigem travesseiro para as costas e intervalos para descanso.
- Quem trabalha muito tempo sentado deve caminhar de vez em quando. Quem fica em pé deve descansar um dos pés, em intervalos.
- Ande, suba escadas, movimente o corpo, respire profundamente e tente manter a musculatura relaxada.
- Trate a dor aguda com orientação médica, para que ela não se transforme em crônica. Evite a automedicação.
Pode ser infecção
Boa parte das dores lombares crônicas em pessoas com hérnia de disco pode ser causada por infecções “ocultas” e tratada com antibióticos, de acordo com duas pesquisas realizadas por médicos dinamarqueses. Os trabalhos, publicados no “European Spine Journal”, contemplam duas etapas. Primeiro, a equipe liderada por Hanne Albert, da Universidade do Sul da Dinamarca, procurou saber se havia infecção nos discos intervertebrais. Eles analisaram, em 61 pacientes, o material do núcleo do disco que fica entre as vértebras e amortece o impacto entre elas. Quando há hérnia, esse material sai do disco e pressiona os nervos próximos, causando dor.
No grupo estudado pelos dinamarqueses, a hérnia tinha levado também a uma lesão óssea, presente em 40% da população com dor lombar crônica, cuja causa é atribuída, em geral, à falta do amortecimento, já que os discos estão degenerados. No estudo, 46% dos pacientes apresentavam uma infecção bacteriana no núcleo do disco. De acordo com a pesquisa, um ácido produzido pela bactéria, a P. acnes, comumente encontrada na pele e que foi achada na maioria dos discos infectados, é responsável pelas lesões ósseas.
A segunda pesquisa do grupo avaliou um tratamento de cem dias com antibiótico em 144 pacientes. Metade recebeu o remédio e metade, placebo. No grupo do antibiótico, 75% das pessoas diziam, no início do estudo, sentir dores constantes nas costas. Ao fim de um ano, só 20% continuavam nessa situação.De acordo com o fisiatra João Amadera, do Spine Center do HCor (Hospital do Coração) de São Paulo, apesar de promissor, o resultado não significa que esse tratamento possa ser generalizado para qualquer pessoa com dor nas costas. Isso porque é difícil saber em quais pessoas existe a infecção, que é de baixa virulência e não causa sintomas como febre e mal-estar. “O diagnóstico preciso de uma infecção é dado com a cultura (da bactéria) e, para isso, teríamos que fazer uma biópsia do disco suspeito por agulha, o que pode acelerar a degeneração dos discos.”
Outro problema é a longa duração do tratamento, necessária porque os discos são de difícil acesso para os remédios, pela baixa vascularização da região. Para completar, 27% das pessoas que se trataram com antibióticos tiveram diarreia. Os próprios autores do estudo destacam também o perigo do uso indiscriminado de antibióticos, que pode selecionar micro-organismos resistentes aos remédios. Ainda assim, o trabalho chama a atenção ao abrir a possibilidade de um novo tratamento para um problema tão comum, diz Amadera, que vai iniciar um estudo com 20 pessoas para ver se as conclusões dos dinamarqueses se repetem por aqui. Por enquanto, o tratamento deve continuar à base de fisioterapia e remédios para os casos menos graves e cirurgia quando não houver outra opção, diz o ortopedista Luís Eduardo Munhoz da Rocha, especialista em coluna.
Fontes: por Stella Galvão / VivaSaúde / Débora Mismetti / Folha de São Paulo //lersaude.com.br/dor-lombar-o-que-e-e-como-evita-la/
Nenhum comentário:
Postar um comentário