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domingo, 30 de agosto de 2015

RISCO DE ABORTO ESPONTÂNEO É MAIOR PARA MULHERES COM ENDOMETRIOSE

Estudo acompanhou 15 mil mulheres durante 30 anos e verificou um risco 76% maior. A endometriose atinge entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e pode levar até dez anos para ser diagnosticada. No Brasil, aproximadamente 6 milhões têm a doença. Muitas delas, no entanto, sequer sabem que têm o problema. Isso por que o sintoma mais comum é a dor da cólica menstrual que, culturalmente, é considerada típica do período menstrual e muitas vezes ignorada como problema de saúde. A endometriose é também a principal causa de infertilidade feminina sendo responsável por 50% dos casos. Um terceiro aspecto relacionado à endometriose – além de dor e infertilidade – foi apresentado no Encontro Anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, realizado em Lisboa em junho. Pesquisa feita na Escócia com 15 mil mulheres avaliadas entre 1981 e 2010 mostrou que aquelas que têm endometriose apresentaram um risco 76% maior de sofrer aborto espontâneo e a chance triplicada de desenvolver uma gestação fora do útero, também conhecida como gravidez ectópica ou tubária. Os pesquisadores analisaram dois grupos de mulheres, com ou sem endometriose, e naquelas com diagnóstico prévio da doença, foram verificadas ainda uma chance maior de hemorragia pré e pós-parto, além do nascimento prematuro dos bebês. Apesar de serem números impactantes, o ginecologista e presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Agnaldo Lopes da Silva Filho afirma que a descoberta não deve pautar a decisão de uma mulher em ter ou não um filho já que a gravidez não é considerada de risco. “É uma pesquisa de peso que sinalizou para outras repercussões sobre a endometriose. Os resultados são importantes para que a mulher com a doença seja orientada sobre essas complicações”, afirma.

Sintomas

Além de cólicas fortes e dificuldade para engravidar, dor na relação sexual, dores espontâneas na região do útero, desconforto para evacuar (às vezes acompanhada de diarreia) ou para urinar durante o período menstrual também podem ser sinais da doença. O endométrio é a camada interna do útero que se renova mensalmente pela menstruação. Sua função é preparar o órgão para receber o embrião. Quando a gravidez não acontece, o tecido descama e sai pela vagina: a menstruação. A endometriose consiste na presença de endométrio em locais fora do útero como, por exemplo, na superfície dos órgãos abdominais e nas vísceras pélvicas. Quando o sistema imunológico responsável pela defesa do organismo não consegue eliminar essas células, a doença se estabelece. Ou seja, quando há endometriose, sempre que a mulher menstrua, o tecido que está fora do útero desenvolve-se e sangra ao mesmo tempo dentro do corpo, provocando inflamação, dor e a formação de tecido cicatricial. Isso faz com que a doença progrida sobre órgãos e tecidos. Em casos graves, as lesões podem ser irreversíveis. A endometriose não tem cura, mas tem tratamento. Os principais objetivos são aliviar ou reduzir a dor, reverter ou limitar a progressão da doença, preservar ou restaurar a fertilidade e evitar ou adiar a recorrência da doença. O tratamento é sempre individualizado e leva em consideração o desejo da mulher em engravidar e o grau da doença. O presidente da SOGIMIG, Agnaldo Lopes da Silva Filho, explica que para as manifestações mais graves da doença a cirurgia é indicada e é feita por videolaparoscopia. Assim, os implantes ou lesões, como são chamados os pedaços do endométrio instalados em outras partes do corpo, são destruídos pela energia do laser, coagulação bipolar (cauterização) ou retirada com instrumento cirúrgico. Ainda não se conhece exatamente o porquê de a endometriose se desenvolver, mas é consenso que fatores imunológicos, genéticos e hormonais estão associados ao surgimento da doença. O diagnóstico é feito pela análise do quadro clínico, através da presença dos sintomas da doença, e exames de imagens. Os principais são a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética. Segundo a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) cerca de 50% das mulheres com endometriose podem engravidar espontaneamente após o tratamento adequado e a cirurgia por videolaparoscopia pode aumentar as chances de gestação espontânea em mulheres em todos os estágios da doença. Em alguns casos, entretanto, podem ser necessárias técnicas de reprodução assistida como a fertilização in vitro.

Mais da metade das brasileiras desconhece a endometriose

Pesquisa da SBE em parceria com a Bayer mostrou que 53% das brasileiras desconhecem a endometriose. O levantamento foi feito com 10 mil mulheres, com idade acima de 18 anos, em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Outro indício de que a doença ainda não é de conhecimento amplo da população feminina é o levantamento do Google sobre os termos mais buscados no Brasil em 2014. O relatório apontou a palavra ‘endometriose’ entre as dez mais pesquisadas na categoria ‘O que é…’. Pesquisa revela falta de informação das mulheres em grande parte das capitais do país sobre doença que é uma das principais causas de infertilidade na população feminina Ela afeta mais de 170 milhões de mulheres em todo o mundo, causa dor, sangramento irregular e é também uma das principais causas da infertilidade e perda de qualidade de vida entre a população feminina. No Brasil, são cerca de 6 milhões de mulheres sofrendo com a endometriose, sendo que 53% desconhecem a doença. O dado alarmante vem de pesquisa realizada este ano pela Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), com apoio da Bayer. O levantamento foi feito com 10 mil mulheres, com idade acima de 18 anos, em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. A pesquisa revelou que, em Porto Alegre, 68% das mulheres não sabem o que é a endometriose, enquanto, em Manaus, o número subiu para 82%. Em São Paulo e Brasília, 52% disseram nunca ter ouvido falar da doença. Em Recife, 72% das mulheres afirmaram já ter ouvido falar sobre o assunto; em Curitiba e Salvador, o percentual de conhecimento foi de 64%, e no Rio de Janeiro, de 54%. E reforça também que as mulheres ainda não estão bem informadas sobre a endometriose, o que acaba dificultando a detecção e tratamento da doença. Na capital mineira, apenas 27% das mulheres abordadas responderam conhecer a doença. O ginecologista Benito Ceccato, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, explica que o endométrio é a membrana que reveste a cavidade uterina, “cuja função é receber o ovo fecundado. A placenta vai ser formada no endométrio e será a conexão do bebê com a mãe, fornecendo os nutrientes necessários para o desenvolvimento fetal. Todo mês, o endométrio prepara-se para receber o óvulo fecundado e, caso não ocorra a gravidez, ele descama junto do sangue (menstruação)”. “Assim, a endometriose é a presença de tecido similar ao endométrio fora da cavidade uterina, que também responde às variações hormonais, podendo descamar e sangrar durante o período menstrual”, diz. O especialista esclarece que a endometriose pode ocorrer, teoricamente, em qualquer parte do organismo, sendo descritos casos raros de localização, por exemplo, na cicatriz umbilical, septo nasal e na pleura. “As localizações mais comuns são a cavidade peritoneal (peritônio é a membrana que recobre os órgãos do abdômen), os ovários, os ligamentos uterinos e intestinos. Os tipos, portanto, estão relacionados com sua localização: peritoneal, ovariana, profunda (quando acomete os ligamentos uterinos e o intestino terminal) e de outras localizações. Ressalte-se que a endometriose pode aparecer em mais de uma localização na mesma paciente.” O especialista ressalta que as causas definitivas da endometriose ainda são pouco definidas. “Fatores genéticos e imunológicos estão relacionados com a gênese da doença. É sabido, também, que mulheres que postergam a gravidez, com perfil empreendedor, têm maior propensão à doença. Os sintomas estão mais relacionados com o período menstrual. O mais clássico é a dismenorreia (desconforto e cólicas menstruais) intensa e progressiva (piora com o passar do tempo).” Quando a doença surge em órgãos como a bexiga, pode haver sangramento ao urinar (hematúria), e quando a endometriose atinge o septo nasal, sangramento nessa região (epistaxe). Ceccato salienta que os sintomas intensos da endometriose pioram muito a qualidade de vida das mulheres acometidas pela doença, que sofrem durante o período menstrual não apenas com as cólicas e o desconforto, mas também com sintomas psicológicos associados, que podem comprometer o relacionamento familiar e social. “As mulheres no período reprodutivo estão propensas à doença. Há fatores genéticos e imunológicos bem definidos que predispõem o desenvolvimento dela, assim como fatores comportamentais, como a postergação da gravidez.”

Um mal assintomático

Rivia Mara Lamaita, presidente do Comitê de Reprodução Humana da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, diz que a incidência de endometriose na população feminina é variável, devido à presença de uma grande porcentagem de mulheres que são assintomáticas e às limitações dos exames de imagem para evidenciar um diagnóstico preciso da doença. “É uma afecção ginecológica comum, presente na mulher principalmente durante seu período reprodutivo, podendo ser encontrada também entre adolescentes. As estimativas da doença dependem da população que está sendo avaliada.” Segundo a médica, observa-se uma prevalência da doença em achados acidentais cirúrgicos em torno de 1,6 casos por 1 mil pacientes. Em mulheres assintomáticas, o problema está presente em entre 2% e 22% delas; entre 20% e 50% em pacientes que não conseguem engravidar espontaneamente; e nas portadoras de dor pélvica, a prevalência fica entre 40% e 50%.” A médica esclarece que as principais consequências da doença são a dismenorreia incapacitante (dores tão fortes, que a mulher acaba se afastando das atividades diárias, como trabalho, vida social, academia), que habitualmente leva a paciente ao uso excessivo de analgésicos para controle do quadro ou ao pronto-atendimento para medicações intravenosas, e também o insucesso de tentativas de um casal com desejo de engravidar. “A dor pélvica cíclica ou acíclica, associada ao quadro de dispareunia (dor que aparece nos órgãos genitais durante ou logo após as relações sexuais) ou à mudança do hábito intestinal ou à dor ao evacuar, limitam e atrapalham a qualidade de vida da mulher, que se depara com limitações sociais durante esse período. Muitas vezes, há uma demora no diagnóstico da endometriose e a paciente vai experimentando um estresse enorme frente à falta de controle do quadro. A progressão da doença também pode alterar o funcionamento de outros órgãos e até obstruções quando comprometem o intestino ou bexiga. “

Terapia individual

Rivia ressalta que não há uma terapia curativa para a endometriose e o tratamento deve ser individualizado e voltado para as queixas relevantes de cada paciente. “Os sintomas de dor pélvica são tratados com analgésicos potentes e anti-inflamatórios, e a supressão hormonal na mulher auxilia muito no controle da endometriose. Podem ser usados contraceptivos combinados ou somente com progestágenos. Em casos mais graves, até bloqueios mais intensos com análogos do GnRH (hormônio estimulante de gonadotrofinas). Há casos que somente se beneficiarão com intervenções cirúrgicas.” O inventário da cavidade pélvica, um exame bem minucioso feito por videolaparoscopia, é um dos melhores para obter um diagnóstico preciso para endometriose. “Durante essa intervenção, ao mesmo tempo que é feito o diagnóstico, é possível realizar a retirada dos focos comprometedores da endometriose e, assim, amenizar a doença e melhorar seus sintomas. Depois desse tratamento, as pacientes inférteis sem comprometimento tubário e sem outros fatores de infertilidade associados podem melhorar sua chance de engravidar, tanto de forma espontânea como com auxílio de um especialista.”

Tipos

A endometriose é uma doença enigmática e tem merecido classificações que procuram identificar a localização das lesões, o grau de comprometimento dos órgãos e a severidade da doença. Embora grande parte das clínicas utilize a classificação da American Fertility Society que divide a doença em mínima, leve, moderada e severa, recentes avanços na pesquisa da doença recomendam uma nova classificação em 3 diferentes tipos: superficial ou peritoneal, ovariana e infiltrativa profunda. Entretanto a endometriose é considerada uma doença multifocal, isto é, na maiorias das vezes ela se apresenta em mais de um tipo na mesma paciente: superficial e ovariana, intestinal e ovariana, as três juntas e assim por diante. Todos os três têm o nome de endometriose, mas são consideradas doenças diferentes, pois não possuem a mesma origem e por isto recebem tratamentos diferenciados. Esta divisão tem facilitado o tratamento e a cura, e mostra a importância do médico especialista em conhecer cada um dos detalhes que envolvem a doença, conseguindo-se assim separar o “joio do trigo”. A endometriose costuma provocar medo nas mulheres, que pode ser justificado, muitas vezes, pelo desconhecimento de sua causa. Porém, nem sempre o aparecimento da doença é motivo de desespero e precisa ser combatido urgentemente.

Conheça os 3 tipos de endometriose e saiba quais são as principais características:

>> Superficial: É caracterizada por lesões muito pequenas, de um a dois milímetros, na região pélvica da mulher. Os exames de imagem não são capazes de detectar o problema e seu diagnóstico ocorre apenas quando a cirurgia é realizada. “O tipo (superficial) pode ou não trazer problemas clínicos, pois não sabemos se essas pequenas lesões crescem ou regridem espontaneamente”, explica o Dr. Sergio Podgaec, ginecologista do Einstein. “Ou seja, é possível que existam muitas mulheres com a doença e elas nunca saberão disso. Assim, nem sempre a mulher que possui essa lesão deve fazer algum tipo de procedimento. Na maioria dos casos, o importante é fazer o acompanhamento para saber se a doença evolui.” >> De ovário: Também conhecida como endometrioma de ovário, é uma das formas mais comuns da doença, acometendo, segundo dados do especialista do Einstein, aproximadamente 40% das mulheres que têm a doença. “Neste caso surge um cisto no ovário da mulher que geralmente só é detectado por meio de um exame de imagem”, explica Podgaec. De acordo com o médico, nem sempre a doença pode ser detectada apenas com exame de toque na mulher, com exceção das vezes em que o cisto é muito grande. >> Profunda: É o tipo mais avançado da endometriose. Caracterizado quando a mulher possui lesões com mais de 5 milímetros de espessura e pode afetar intestino, vagina, bexiga, ureter e outros órgãos. “Seu diagnóstico é realizado por meio de toque ou de exames de imagem. Este é o tipo que normalmente gera mais dor na mulher”, diz o cardiologista. Segundo ele, o tipo de sintoma varia de acordo com o local onde a doença acontece. “Geralmente, a suspeita pode ser mais precisa porque a mulher sente dor no local em que a doença está. Ou seja, sintomas intestinais podem se relacionar com a presença de lesões intestinais, sintomas urinários com lesões na bexiga e dor na relação sexual com nódulos no fundo vaginal.”

Outras formas de endometriose

# Endometriose de parede: Esta forma da doença aparece após uma cirurgia uterina, seja uma cesárea, histerectomia ou miomectomia. Durante a cirurgia, células do endométrio acabam ficando na cicatriz cirúrgica e ali proliferam e formam um nódulo de endometriose. O quadro clínico consiste em um nódulo abaixo de uma cicatriz cirúrgica que dói e aumenta durante o fluxo menstrual! O tratamento é sempre cirúrgico e consiste na remoção do nódulo. De forma contrária ao que fazemos nos outros tipos de endometriose esta não precisa de complementação medicamentosa após a cirurgia e tampouco da prevenção da recidiva. # Endometriose pulmonar ou pleural: É extremamente rara. Ainda não sabemos com as células endometriais vão parar tão longe! Talvez elas entrem em um vaso sanguíneo ou linfático e cheguem aos pulmões. A mulher com endometriose pulmonar pode se queixar de tosse com sangue durante o fluxo menstrual. # Septo reto-vaginal: É extremamente rara, acomete o tecido que fica entre o reto e a vagina. Sua origem ainda é controversa, entretanto, acredita-se que pode derivar da transformação de algum resquício da formação dos órgãos genitais em células endometriais. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico.

Classificação da endometriose

O sistema de classificação de ASRM é comumente utilizado atualmente e baseia-se no aspecto, tamanho e profundidade de implantes peritoneais e ovarianos; na presença, extensão e tipo de aderências; e no grau de obliteração do fundo de saco. Estes parâmetros, em conjunto, refletem a extensão da doença endometriótica. Os estádios são dependentes da pontuação de acordo com indicado abaixo: - Estágio I (endometriose mínima): escore 1-5, implantes isolados e sem aderências significantes. - Estágio II (endometriose leve): escore 6-15, implantes superficiais com menos de 5 cm, sem aderências significantes. - Estágio III (endometriose moderada): escore 16-40, múltiplos implantes aderências peritubárias e periovarianas evidentes. - Estágio IV (endometriose grave): escore > 40, múltiplos implantes superficiais e profundos, incluindo endometriomas, aderências densas e firmes. FONTES: por Augusto Pio / Saúde / Estado de Minas / Valéria Mendes / Saúde / Correio Braziliense / Hospital Albert Einstein // lersaude.com.br/risco-de-aborto-espontaneo-e-maior-para-mulheres-com-endometriose/

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