LIVRE-SE DA FERRUGEM CORPORAL

Se você vacilar, suas células podem oxidar demais - e prejudicar desde sua pele até seu DNA. Não deixe! Enquanto você lê esta reportagem, seu organismo luta para eliminar bactérias e células mortas prejudiciais à saúde. Esse esforço natural é conhecido como oxidação celular e começa a partir do momento em que o ar entra em seus pulmões. Radicais livres estão presentes nesse processo. Você já deve ter ouvido falar deles. “São agentes oxidantes que contribuem para benefícios no organismo: combatem pequenas inflamações e estimulam a cicatrização”, explica Ana Paula Garcia Cardoso, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Mas os radicais livres também têm sua dose de culpa no envelhecimento precoce e no surgimento de alguns tipos de câncer. “O corpo é capaz de controlar a ação dos radicais livres até certo ponto. Quando em excesso no organismo, eles prejudicam funções celulares, numa reação em cadeia que afeta DNA e pode, a logo prazo, resultar em doenças como Alzheimer”, acrescenta Ana. A esse excesso damos o nome de estresse oxidativo, que é similar ao que a ferrugem causa ao ferro. Para combater esse quadro de oxidação exagerada, o organismo libera enzimas antioxidantes. Porém, fatores externos podem potencializar sua produção de radicais livres e desequilibrar esse balanço. A seguir, você confere em que situações seu corpo produz mais radicais livres e como você pode reduzir as reações adversas causadas por esse excesso – ou seja, adotar ações e comer alimentos antioxidantes. NA ATIVIDADE FÍSICA Durante a respiração, o organismo libera naturalmente radicais livres. É um efeito colateral do processo fisiológico que dá “combustível” a seu corpo. Quando você realiza atividades aeróbicas, ocorre um aumento no consumo de oxigênio (O2) para dar mais energia aos seus músculos e órgãos. Quanto mais esforço, mais O2 você vai precisar. Assim, a produção de radicais no corpo cresce e o equilíbrio da oxidação celular é afetado. Então, surgem, entre outros fatores, fadiga, dor muscular e até algumas microlesões na musculatura. Como neutralizar - “Evite correr mais do que 48 km por semana ou treinar acima de 80% de sua frequência cardíaca máxima* por mais de 1 hora por dia. Descanse um dia entre cada treino”, explica Yana Glaser, nutricionista esportiva de Curitiba. Exercícios físicos moderados também têm a função de regular a oxidação das células, segundo Yana. Também invista em sucos de frutas cítricas, como laranja e limão. Eles contêm vitamina C, que fortalece o sistema imunológico e ajuda a limar a oxidação pós-treino. NO DIA DE TRABALHO INTENSO O estresse, combinado à poluição e à incidência de raios UVA e UVB na pele, potencializa sua produção de radicais livres, o que pode acelerar um quadro de envelhecimento precoce. Logo, não só a parte interna do corpo sofre, a externa também. Os radicais livres são instáveis, (precisam se ligar a outras estruturas químicas do organismo para se estabilizar) e podem se meter na ligação entre colágeno e elastina. Aí, sua pele pode ficar mais flácida, com rugas ou estrias. Como neutralizar - “Todas as células do corpo são passíveis de sofrer dano caso não ocorra a neutralização dos radicais livres. Produtos tópicos (como cremes ricos em antioxidantes como vitamina C, E, K e ácido fólico) podem ser usados de manhã e à noite, associados ou não a antirrugas, filtros solares ou hidratantes”, sugere Cristiano Kakihara, dermatologista de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. NO PRATO O baixo estoque de nutrientes e uma dieta desequilibrada são o que impossibilita o organismo de anular o estresse oxidativo. “O consumo exagerado de gorduras saturadas, como frituras ou alimentos embutidos, potencializa sua produção de radicais e pode causar doenças cardíacas e diversos tipos de anemia”, explica Fernanda Prudente, nutricionista da Clínica de Oncologia Médica (Cliconco), em São Paulo. Como neutralizar - De acordo com a oncologista Ana Paula, o organismo sozinho não é capaz de produzir antioxidantes suficientes para se proteger da ação dos radicais. Então, capriche no prato e escolha alimentos que contenham vitamina E, como gema de ovo, alface, abacate, milho e amendoim. NO COPO Segundo o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), em São Paulo, o fígado demora cerca de uma hora para metabolizar o álcool e eliminar o equivalente a uma lata de cerveja do organismo. Em excesso, a birita gera dano oxidativo com o acúmulo de radicais livres e impossibilita uma ação antioxidante. Como neutralizar – Para Jairo Monson, a maneira mais eficaz de reduzir o dano causado pelo álcool é consumi-lo moderadamente, junto ou logo após refeições, e quando não houver qualquer contraindicação (junto com alguns medicamentos, por exemplo, não pode). Algumas bebidas como o vinho (veja boxe) e a cerveja também possuem antioxidantes, então é interessante saber o que beber. “Assim, reduz-se também a incidência de radicais livres no organismo”, afirma. NA CAMA O corpo prioriza o uso de vitaminas e minerais antioxidantes para combater o excesso de radicais livres no organismo. Se os estoques estiverem baixos, algumas funções sexuais podem ser afetadas. “Esses nutrientes são responsáveis também por melhorar a circulação e a aumentar a libido”, explana Fernanda. E isso está diretamente ligado à ereção. Como neutralizar - Biritar na boa, não fumar e comer ostras e cereais integrais, que contêm zinco, ajuda a produzir espermatozoides saudáveis e regula seu nível de testosterona, segundo relatório divulgado pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (EUA). * FCM = 220 – sua idade SUPLEMENTAR NÃO É PRECISO Trocar sua dieta balanceada por alguns comprimidos pode sabotar seu regime e sua saúde. Fique ligado! De acordo com Jairo Monson, cardiologista do Hospital Beneficiente São Pedro, em Garibaldi (RS), especialista na relação vinho e longevidade, a estrutura molecular de antioxidantes sintéticos e naturais é igual e tem a mesma ação, portanto não é preciso suplementar. “A suplementação em excesso de alguns nutrientes pode ter efeito contrário, ou seja, aumentar a oxidação”, alerta. Estudos americanos relacionaram suplementos antioxidantes e o consumo desses nutrientes por meio de frutas e verduras. “Pessoas que tomaram comprimidos dessas vitaminas e minerais por mais de dez anos não tiveram melhora na saúde nem viveram mais do que pessoas que não usaram os suplementos”, explica o médico. VINHO. O REFORÇO DA SAÚDE A bebida possui mais de mil compostos que podem ajudá-lo a cuidar da mente e do corpo. Entre elas está o resveratrol, uma das mais poderosas substâncias antioxidantes disponíveis na natureza O resveratrol está presente em mais de 70 plantas, mas é na uva que pode ser encontrado em abundância. “A função é proteger a videira do ataque de fungos. Pode muito bem ser comparada à ação antioxidante do polifenol no seu organismo”, explica Luciano Vian, enólogo e presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), no Rio Grande do Sul. Vinhos da mesma safra podem conter diferentes doses de resveratrol. A presença dele na uva depende de fatores como solo e umidade. “Exposição ao sol diminui a quantidade da substância na fruta. Já o ataque de pragas estimula a produção do resveratrol. A variedade da uva e cuidados com o vinho também influenciam, assim como a ação do álcool”, diz. O vinho tinto é produzido, em geral, com uva preta, já que possui a maior concentração de resveratrol, de acordo com pesquisas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e da Universidade Harvard (EUA). “O consumo diário de dois cálices pode combater diversas células cancerígenas”, orienta o cardiologista Jairo Monson. Mal à saúde? Uma análise feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com mais de 80 vinhos, sendo 25 nacionais, não encontrou vestígios de micotoxinas presentes na bebida capazes de prejudicar sua saúde. “Existem mil substâncias no vinho e a única que, em excesso, pode prejudicar é o álcool”, finaliza Monson. FONTE: MENSHEALTH