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sábado, 1 de outubro de 2011

MEDUSAS MISTERIOSAS SÃO MAIS COMPLEXAS DO QUE SE IMAGINA


Entre o grande inventário de criaturas multicelulares da natureza, a água-viva parece a mais alienígena possível dentro do que os seres marinhos podem ser em relação a nós do reino animal. Onde estão a cabeça, o coração, as costas, a frente, os conjuntos idênticos de componentes e órgãos? Onde está a simetria bilateral? Se alguma dinastia taxonômica está destinada a receber o título de mais original, esse posto cabe à água-viva.
Um grupo diversificado de milhares de espécies de invertebrados, as águas-vivas são absurdamente antigas, datando de 60 a 700 milhões de anos atrás ou mais. Têm o dobro da idade dos primeiros peixes ósseos e insetos e, são três vezes mais velhas que os primeiros dinossauros.
As medusas são os animais de múltiplos órgãos mais antigos da Terra – diz David J. Albert, um especialista em águas-vivas do Laboratório Biológico Marinho Roscoe Bay ,em Vancouver, na Columbia Britânica.
Mesmo com sua nobre antiguidade, as águas-vivas têm sido ignoradas ou mal compreendidas pelas principais correntes científicas. Agora, numa série de novos estudos, os pesquisadores descobriram que há mais complexidade e nuances do que os olhos podem ver. Na edição de maio da revista “Current Biology”, Anders Garm, estudioso de águas-vivas na Universidade de Copenhague (Dinamarca), descreve o incrível sistema visual da água-viva caixa, no qual um conjunto interativo de 24 olhos de quatro tipos distintos – dois deles muito semelhantes aos nossos – permite que ela navegue como um marinheiro experiente pelos manguezais onde vive.
Os olhos têm córnea, cristalino e retina – como os de humanos – e, ficam suspensos em hastes com cristais pesados numa ponta, para garantir que eles estejam sempre apontados para cima, orientando a navegação.
O cristal funciona como um peso. Não importa como a água-viva se reoriente, a haste dobra e os olhos são virados para cima - diz Garm.
No “The Journal of Experimental Biology”, Richard A. Satterlie, biólogo marinho da Universidade da Carolina do Norte (EUA) contestou o senso comum de que falta à água-viva qualquer semelhança com o sistema nervoso central dos vertebrados superiores. A distribuição das células nervosas da água-viva pode ser comparativamente mais difusa do que num animal com cérebro e medula espinhal óbvios, mas a disposição está longe de ser confusa – diz Satterlie.
Recentes investigações detalhadas de arquitetura e atividade neural revelaram indícios de “condensação neuronal”, lugar onde os neurônios se aglutinam para forma estruturas distintas que funcionam como centros de integração, recebendo informação sensorial e traduzindo para a resposta adequada.
As medusas fazem muito mais do que as pessoas pensam. Quando os livros de faculdade afirmam que elas não têm um sistema nervoso centralizado, estão totalmente errados.
Albert vai além e diz ser justo declarar que uma água-viva tem cérebro. Ele passou anos estudando a população residente de medusas-da-lua em Roscoe Bay, partindo da seguinte questão: as águas-vivas deviam ser como o plâncton, à mercê das marés que enchem e esvaziam a baía todos os dias. Então, por que não são simplesmente levadas para o mar aberto?
Albert descobriu que as águas-vivas não são flutuadoras passivas. Quando a maré começa a esvaziar, elas pegam onda até chegarem a uma barra de cascalho e, em seguida, mergulham até águas tranquilas. E permanecem nesse oásis de tranqüilidade até a maré comece a encher novamente. Então sobem e são levadas de volta para a baía. O estudioso também descobriu que as águas-vivas têm medidores de salinidade. No verão, evitam a água doce lançada na baía pelo degelo das montanhas, voltando a mergulhar até encontra sal suficiente para atender às suas necessidades. Elas gostam de se agregar em bandos e, por meio de assinaturas moleculares na parte externa de seus sinos, distinguem medusas amigas de espécies predadoras.
Se a medusa-da-lua é tocada por uma água-viva predadora, ela se transforma e nada para cima – diz ele, acrescentando: - Ao examinar todos esses comportamentos, é preciso se perguntar o que seria necessário para organizá-los e executá-los? Não são simples reflexos, são comportamentos organizados. Isso é o que o cérebro faz.
As águas-vivas são carnívoras encontradas em alto-mar, regiões costeiras e lagoas. Com exigência modesta de oxigênio, podem viver em águas poluídas impraticáveis para a maioria da vida marinha. Se algum peixe tocar as extensões de seus tentáculos, a pressão aciona células responsáveis por lançar arpões minúsculos carregados de neurotoxinas. Inclusive alguns desses venenos podem matar o ser humano em questões de poucos minutos!

Fonte: New York Times e revista Planeta Terra

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