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domingo, 31 de maio de 2015

A NANOTECNOLOGIA QUE ESTÁ NA SUPERFÍCIE

O microscópio de tunelamento permite ver a estrutura em formato de caixa de ovos desenvolvida pela equipe usando silício e grafeno.

Tecnologias de superfície

Um grande número de aplicações tecnológicas, com incidência cada vez maior na vida cotidiana, tem como base fenômenos que ocorrem e dependem das superfícies dos materiais: da interação entre próteses e ossos na medicina à catálise de reações químicas em automóveis e na indústria, passando por dispositivos para armazenagem e leitura de dados. "Todos os fenômenos decorrentes da interação entre uma superfície e o meio externo - adesão, lubrificação, corrosão, catálise etc. - dependem basicamente da troca de elétrons entre átomos vizinhos. Então, quando se estuda a interação de um sólido com o meio, é preciso saber que átomos compõem a superfície do sólido, como esses átomos se distribuem na superfície e quais são as ligações químicas entre eles," explica o físico Richard Landers, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do projeto "Estrutura eletrônica e geométrica de nanomateriais". "O número de átomos na superfície, da ordem de 1015 por centímetro quadrado, é muito pequeno em comparação com o número de átomos no interior do material, da ordem de 1023 por centímetro cúbico. São esses 1015 átomos por centímetro quadrado que determinam como o sólido interage com o meio", prosseguiu o pesquisador.

Caixa de ovos magnéticos

Um dos trabalhos mais recentes da equipe foi feito por Luis Henrique de Lima, envolvendo o cultivo de grafeno sobre silício, um importante campo de pesquisas na área do armazenamento de dados. O grafeno foi obtido aquecendo o carbeto de silício (SiC) a mais de 1100º C. A essa temperatura, as ligações químicas entre o carbono e o silício se rompem, o silício evapora e os carbonos ligam-se uns aos outros, formando uma folha de grafeno, uma estrutura cristalina com apenas um átomo de espessura, na qual os átomos de carbono formam arranjos hexagonais. "Tridimensionalmente, a superfície formada neste substrato tinha o formato de uma caixa de ovos, com saliências e depressões. E a ideia foi distribuir as partículas magnéticas de cobalto nos locais onde, analogamente, iriam os ovos", explica o professor Abner de Siervo, membro da equipe. "Um resultado interessante, que pudemos detectar por meio da microscopia de tunelamento e da espectroscopia de elétrons, foi que, ao aquecer as nanopartículas de cobalto em cima do grafeno, estas migravam para baixo da superfície, ficando intercaladas e protegidas pelo grafeno em relação ao exterior. O interessante é que essas partículas parecem ocupar posições exatamente como ocorre com os ovos na caixa. Com isso, criamos uma estrutura ordenada de nanopartículas ferromagnéticas, separadas entre si por distâncias precisas e conhecidas e protegidas pela folha de grafeno", detalhou o pesquisador. Uma possível evolução do trabalho de pesquisa será fazer crescer sobre o grafeno um óxido antiferromagnético. Haveria, então, uma estrutura ferromagnética e uma estrutura antiferromagnética separadas por uma única camada de átomos de carbono. "Por estarem muito próximas, essas estruturas estabeleceriam entre si um efeito que é chamado em inglês de exchange bias. Trata-se do princípio de funcionamento das leitoras magnéticas. A diferença, no caso, é que, em vez de operar em escala microscópica, nossa peça operaria em escala nanométrica, o que poderia trazer muitas vantagens adicionais. Mas, antes de buscar qualquer possível aplicação, é preciso entender os princípios físicos em um regime ainda pouco estudado, que é o das nanopartículas muito próximas umas das outras, com um alto adensamento por unidade de área", disse Siervo.
Catalisador modelo composto por nanopartículas de ródio (Rh) crescidas sobre um filme de magnetita ultrafino e ordenado suportado em paládio (Pd). À esquerda e à direta os padrões de difração de fotoelétrons com seletividade químico-elementar.

Catalisadores

Não se trata apenas de estudar superfícies, mas também de criá-las. Para isso, o laboratório do GFS dispõe igualmente de uma câmara de ultra-alto vácuo. "Na pressão atmosférica normal, aproximadamente 1000 mbar, cada sítio atômico da superfície é atingido cerca de 1 bilhão de vezes por moléculas do meio externo a cada segundo. Se trabalharmos com alto vácuo, da ordem de 10-9 mbar, o número de impactos cairá para um a cada segundo. Mas tal vácuo ainda não é suficiente, pois, em apenas um segundo, a superfície estaria contaminada. É necessário um vácuo ainda mais extremo, um ultra-alto vácuo, da ordem de 10-10 ou 10-11 mbar . Em nossos experimentos, temos condições de fazer crescer, controladamente, camadas monocristalinas em condições de ultra-alto vácuo, dentro do sistema de análises", disse Landers. Os catalisadores reais são constituídos por um óxido ou uma zeólita (material amorfo e poroso) sobre os quais se depositam metais ativos. Seu estudo na escala atômica é extremamente difícil. Por isso, os pesquisadores partiram para a criação e o estudo de catalisadores modelos. "Criamos uma superfície de óxido suficientemente fina, que mimetizava o óxido real, e sobre ela fizemos crescer partículas metálicas, como ródio, platina ou paládio, investigando a estrutura formada", disse Landers. "Grande parte dos recursos do projeto foi utilizada para montar a infraestrutura destinada a essa investigação. Para se ter ideia, um sistema de análises desses pesa mais ou menos 1 tonelada. Além disso, o tratamento dos dados experimentais exigiu, também, a montagem de um cluster computacional", disse. Outro equipamento utilizado pelos pesquisadores foi o microscópio eletrônico de tunelamento, que se tornou necessário porque a técnica de difração de elétrons, utilizada para mapear a superfície, não possibilita determinar o tamanho real das partículas metálicas criadas. "Na maior parte das vezes, conseguimos ver a nanopartícula que cresceu e identificar seu arranjo de átomos. Juntando as duas técnicas, espectroscopia e microscopia, conseguimos aumentar expressivamente o conhecimento sobre os sistemas que estávamos investigando", disse o pesquisador. fonte:inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=nanotecnologia-na-superficie&id=010165150526

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